Novidades da Ciência

Remote physical examination for temporomandibular disorders

Resenha escrita por: Fernanda Pereira de Caxias

A pandemia da doença do coronavírus 2019 (COVID-19) trouxe mudanças profundas no mundo com a necessidade de distanciamento físico, incluindo nos atendimentos odontológicos, os quais demandam proximidade entre o dentista e paciente, causando prejuízos à assistência odontológica. Esse artigo destaca o papel da telemedicina, dadas as consequências imediatas e a longo prazo da COVID-19, bem como no atendimento a indivíduos que vivem em áreas isoladas com difícil acesso aos serviços de saúde1. Felizmente a COVID-19 não é mais considerada uma emergência de saúde pública de importância internacional desde 05 de maio de 20232, mas a telemedicina continua com sua relevância baseada, também, na possibilidade de outros eventos futuros, que exijam distanciamento, que o mundo possa vir a enfrentar. Diante disso, esse estudo avaliou a compatibilidade de um protocolo de exame remoto com o padrão de exame do questionário de Critérios Diagnósticos para Disfunção Temporomandibular (DC/TMD) 1. Os protocolos remotos do estudo foram do tipo exame físico presencial com distanciamento e por vídeocomunicação1.


Metodologia

Esse foi um estudo cruzado e randomizado. O estudo avaliou 16 indivíduos, sendo 12 deles com disfunção temporomandibular (DMT) e 4 sem DMT, saudáveis, que passaram por uma seleção por meio de entrevista médica detalhada1. Todos os voluntários participaram em sessão única onde eles foram examinados, primeiramente, pelo exame padrão de referência do DC/TMD, e depois, foram realizados, aleatoriamente, três exames feitos por três diferentes avaliadores criteriosamente calibrados e por meio de protocolos diferentes, os quais foram: por exame físico padrão de acordo com as recomendações do DC/TMD; exame físico com uma distância de 2 metros entre o examinador e o voluntário; e exame remoto conduzido com a ajuda de tecnologia de comunicação por vídeo em que o voluntário permanecia sozinho na sala de exame1. No exame físico de referência e no exame físico padrão, os examinadores tocaram os voluntários1. Para evitar o risco de viés, o mesmo participante não foi avaliado mais de uma vez por cada examinador1. Por sua vez, no exame com distância de 2 metros e no exame por tecnologia de vídeo, o examinador não tocava o voluntário, em vez disso, os eles foram instruídos a como localizar e palpar seus músculos temporal e masseter, bem como a articulação temporomandibular para avaliação de ruídos articulares e dor muscular e articular1. Ao palpar, os voluntários transmitiam informações sobre as sensações para o examinador que passava comandos verbais específicos1.


Principais resultados

O desfecho primário foi a concordância para o diagnóstico de mialgia do masseter e temporal e artralgia entre o exame padrão de referência e os outros três exames (padrão, distância física e comunicação por vídeo)1. Como desfecho secundário, foi considerado o diagnóstico de disfunções intra-articulares e degenerativas da ATM devido ao seu menor impacto na qualidade de vida em comparação com as disfunções dolorosas1.

Após análise estatística e testes de concordância, especificidade e sensibilidade, foi encontrada concordância quase perfeita entre o exame de referência padrão e os outros exames para o diagnóstico de mialgia e artralgia1. Por outro lado, a concordância foi fraca entre o exame de referência padrão e os demais exames para o diagnóstico de deslocamento de disco com redução1. Ambos os exames com distância física e por vídeo comunicação demonstraram especificidade e sensibilidade altas para o diagnóstico de dor1. As sensibilidades de diagnóstico de deslocamento de disco com redução foram fracas para o exame com distância física e vídeo comunicação, embora a especificidade tenha sido alta1.

O estudo destaca a importância do desenvolvimento de teleodontologia para avaliação de indivíduos com dores orofaciais de origem musculoesqueletais. Os pesquisadores levaram em consideração que há evidências na literatura que ao se observar uma ação, uma tarefa motora pode ser melhor executada pela ação dos neurônios-espelho1. O estudo ainda destaca as limitações do exame remoto, como detalhes clínicos sobre relação incisal, abertura de boca e amplitude de movimentos funcionais, que mesmo não sendo importantes para o diagnóstico, são informações de destaque na avaliação sistemática da região orofacial1. Outras limitações apontadas foram o tamanho amostral para testar a viabilidade do protocolo remoto para diagnóstico de dores de cabeça associadas às DTMs, descolamento de disco com redução com travamento intermitente, deslocamento de disco sem redução com ou sem limitação de abertura bucal e doenças degenerativas da articulação temporomandibular1. Portanto, esse estudo encontrou que as dores relacionadas às DTMs podem ser diagnosticadas com sucesso por meio de exames físicos remotos, indicado que tecnologias por vídeo comunicação podem ser uma ferramenta útil na avaliação e diagnóstico das dores musculoesqueletais mais comuns relacionadas às DTMs1.


Comentários

     Como destacado no artigo, a importância da telemedicina e teleodontologia é grandiosa não somente para diagnosticar e tratar afecções de indivíduos com doença infectocontagiosas, mas também aqueles que não possuem acesso a especialistas em dor orofacial ou profissionais da saúde com interesse em DTM1.  A possibilidade de avaliação de dores orofaciais por meio da teleodontologia proporciona a oportunidade para melhorias na qualidade de vida de pessoas que não podem ser examinadas de forma convencional. Esse estudo demonstra com um delineamento criterioso e análises bem executadas, que é possível, e confiável, se fazer a avaliação de dores musculoesqueletais na região orofacial por meios remotos. Uma busca na Pubmed, em novembro de 2023, com as palavras-chave “telemedicine OR teledentistry” apresenta o total de 58,895 resultados desde 1962, sendo que 25,817 foram indexados a partir de 2020, demonstrando o destaque dessa modalidade nos últimos anos. Em um mundo globalizado e cada vez mais dependente de tecnologias e de telas, investimento científico na teleodontologia pode ser um ramo promissor que trará benefícios para a odontologia e seus dentistas, bem como a facilitação de acesso dos pacientes a diversos profissionais.

 

Fonte

1-              Exposto FG, Castrillon EE, Exposto CR, Costa DMF, Gøkhan MA, Svensson P, Costa YM. Remote physical examination for temporomandibular disorders. Pain. 2022 May 1;163(5):936-942. doi: 10.1097/j.pain.0000000000002455.

2-              OPAS, Organização Pan-americana da Saúde. OMS declara fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional referente à COVID-19. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/5-5-2023-oms-declara-fim-da-emergencia-saude-publica-importancia-internacional-referente. Acessado em: 08 de novembro de 2023.
autora fernanda caxias.jpeg

Diogo Henrique Nakaie e Isabela Inoue Kussaba

Fernanda Pereira de Caxias 
  • Graduação em odontologia pela Universidade Federal do Espírito Santo.
  • Mestrado e doutorado em odontologia com concentração em prótese dentária pela Faculdade de Odontologia de Araçatuba, UNESP.
  • Doutorado sanduíche na Sessão de dor orofacial e função mandibular da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.
  • Pós-graduanda em prótese dentária na Universidade Federal do Paraná
  • Professora de graduação em odontologia no UniBrasil e de pós-graduação no Instituto Orbis de Curitiba
  • Cirurgiã-dentista na Prefeitura Municipal de Curitiba

Email: decaxiasfp@gmail.com
Instagram: @decaxiasfp
IG:caxiasfp