Novidades da Ciência

Injectable platelet-rich fibrin as treatment for temporomandibular joint osteoarthritis: A randomized controlled clinical trial

Resenha escrita por: Nathália Novaes

A osteoartrite da articulação temporomandibular (OA-ATM) é uma patologia causada pela redução da capacidade adaptativa da cartilagem articular associada a carga mecânica excessiva1. Para tratar essa condição, métodos como a artrocentese, um procedimento menos invasivo, têm sido utilizados com sucesso para remover mediadores inflamatórios e aliviar a pressão na articulação, resultando na redução da dor e na recuperação da amplitude normal de abertura bucal2,3,4,5. Além disso, como complemento à artrocentese, estudos exploram a injeção intra-articular de diversos materiais  incluindo o uso de plasma rico em plaquetas (PRP) e fibrina rica em plaquetas injetável (i-PRF). Esses métodos têm mostrado vantagens significativas6,7,8,9.  O estudo em questão tem como objetivo avaliar os resultados da injeção intra-articular de i-PRF após artrocentese em pacientes com OA-ATM.
 
Inicialmente, 42 pacientes foram recrutados para o estudo, porém, posteriormente, 6 foram excluídos devido à falta de acompanhamento completo. Dessa forma, a pesquisa foi conduzida com a participação de 36 pacientes. Os pacientes foram avaliados por meio de histórico médico, exame físico e análise de tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC). O diagnóstico de OA-ATM seguiu os critérios do Eixo I dos Critérios de Diagnóstico para Disfunções Temporomandibulares (DC/TMD).
 
Foram considerados os seguintes critérios de inclusão: a) pacientes com OA-ATM em uma ou duas articulações; b) abertura bucal máxima inferior a 35mm com estiramento passivo e com desvio para o lado afetado11; c) movimentos de lateralidade e protrusivo impedidos; d) dor localizada da articulação afetada à palpação, mastigação e movimentos mandibulares; e) ausência de resposta aos tratamentos  conservadores; f) 18 anos; g) contagem de plaquetas de pelo menos 150.000 mm3 ; g) vontade de participar do estudo e de dar consentimento informado. Os pacientes foram excluídos da amostra se apresentassem: a) doenças sistêmicas (hematológicas, neurológicas, inflamatórias ou do tecido conjuntivo, etc.) ou malignas que afetem a avaliação e o tratamento da OA-ATM; b) histórico de tratamentos invasivos ou cirúrgicos prévios de ATM não relacionados à OA; c) anquilose fibrosa ou óssea da ATM; d) infecções cutâneas, ópticas ou articulares; e) edentulismos; f) gravidez e amamentação.
 
Os pacientes foram aleatoriamente divididos em dois grupos de tratamento: o primeiro (grupo i-PRF) realizou o procedimento de artrocentese e mais quatro sessões consecutivas de injeções intra-articulares de i-PRF, em intervalos semanais, sem a repetição da artrocentese. Enquanto o segundo (grupo controle) realizou apenas a artrocentese. Todos os procedimentos clínicos foram realizados pelo mesmo cirurgião.
 
A variável do resultado primário foi a dor, cujo nível foi medido no pré-operatório e nos retornos de  1, 2, 3, 6 e 12 meses de pós-operatório, utilizando uma escala visual analógica (EVA). Além disso, as variáveis secundárias incluíram os movimentos de abertura bucal máxima, lateralidade e protrusiva, mensuradas com uso de uma régua milimetrada. Todas as avaliações foram realizadas por um mesmo pesquisador.
 
PROTOCOLOS DE TRATAMENTO
 
Os procedimentos foram realizados com a administração de anestesia local. A técnica de artrocentese, seguindo o protocolo de Nitzan et al. (1991), envolveu a inserção de duas agulhas de calibre 20 no compartimento superior da fossa articular, anteriormente e posteriormente, com lavagem subsequente usando 200 mL de solução salina.

Já no grupo i-PRF, o sangue venoso foi coletado, processado por centrifugação, resultando em i-PRF que foi injetado semanalmente por quatro sessões consecutivas, sem a repetição da artrocentese. Todos os pacientes receberam analgésicos contendo paracetamol para o pós-operatório de uma semana, sendo também recomendada uma dieta leve e exercícios mandibulares adequados.
 
A seguir, serão apresentados os principais resultados encontrados nas variáveis analisadas.
 
AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE DOR
 
O nível de significância foi estabelecido em p <0,05.

No pré-operatório não houve diferenças significativas entre os grupos em relação aos valores médios de dor aferidos durante palpação, mastigação e movimentos mandibulares. Entretanto, nos retornos do 1° ao 12° mês de pós-operatório, observou-se que a diminuição dos valores médios de dor no grupo i-PRF foram maiores do que no grupo controle, e a diferença foi estatisticamente significativa (p <0,001). 

Notou-se que os níveis de dor para o grupo i-PRF diminuíram significativamente no pós-operatório no 1º, 2º, 3º e 6º meses, com essas reduções nos níveis de dor preservadas até o 12º mês pós-operatório. As diferenças foram estatisticamente significativas no 1° e 2° mês de pós-operatório (p < 0,001), com reduções adicionais nos níveis de dor observadas do 2º ao 12º mês de pós-operatório, mas sem diferenças significativas dentro do grupo.

No grupo controle, observaram-se reduções nos níveis de dor no 1º, 2º, 3º e 6º mês de pós-operatório. As diferenças foram estatisticamente significativas no 1° e 2° mês de pós-operatório (p <0,001), enquanto não houve diferenças significativas do 2º ao 6º mês de pós-operatório. Contudo, foi notado um aumento nos níveis de dor no período do 6º ao 12º mês de pós-operatório.
 
 
AVALIAÇÃO DOS MOVIMENTOS MANDIBULARES
 
No período pré-operatório, não foram observadas diferenças significativas nos valores médios das medidas entre os grupos incluindo os movimentos de abertura bucal máxima, lateralidade e protrusão. Do 1° ao 12° mês de pós-operatório, o aumento dos valores médios dos movimentos de abertura bucal máxima, lateralidade e protrusão para o grupo i-PRF foi maior do que para o grupo controle, sendo a diferença estatisticamente significativa (p < 0,001).

As medidas dos movimentos de abertura bucal máxima, lateralidade e protrusão para o grupo i-PRF aumentaram no 1º, 2º, 3º e 6º mês de pós-operatório, com esse aumento nas medidas preservado até o 12º mês de pós-operatório. As diferenças foram estatisticamente significativas no 1º e 2º mês de pós-operatório (p < 0,001), enquanto os aumentos nas medidas foram semelhantes do 2º ao 12º mês de pós-operatório, sem diferenças significativas dentro do grupo.

No grupo controle, as medidas dos movimentos de abertura bucal máxima, lateralidade e protrusão aumentaram no 1º, 2º, 3º e 6º mês de pós-operatório. As diferenças foram estatisticamente significativas no 1º e 2º meses pós-operatório (p < 0,001), enquanto não houve diferenças significativas do 2º ao 6º mês. As medidas dos movimentos de abertura bucal máxima, lateralidade e protrusão foram diminuídas do 6º ao 12º mês de pós-operatório. Observou-se uma diminuição significativa nos níveis de dor em relação à palpação, mastigação e movimentos da mandíbula (p < 0,001).

Contudo, ao longo dos 12 meses pós-operatórios, destacou-se um aumento superior nos valores médios desses movimentos no grupo i-PRF em comparação com o grupo controle.
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
A artrocentese é considerada um tratamento eficaz para AO-ATM. Sendo assim os resultados indicam que o procedimento realizado no grupo i-PRF foi mais eficaz na redução da intensidade da dor e na melhoria funcional dos movimentos da mandíbula do que apenas a artrocentese, realizado no grupo controle.

Os autores concluem que dentro das limitações do estudo, parece que a injeção intra-articular de i-PRF após artrocentese deve ser preferida sempre que apropriado, porque a prioridade é reduzir a intensidade da dor e melhorar o movimento funcional da mandíbula.
 
REFERÊNCIAS
 
IŞIK, Gözde et al. Injectable platelet-rich fibrin as treatment for temporomandibular joint osteoarthritis: A randomized controlled clinical trial. Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery, jun. 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jcms.2022.06.006.
 
Bousnaki, M., Bakopoulou, A., Koidis, P., 2018. Platelet-rich plasma for the therapeutic management of temporomandibular joint disorders: a systematic review. Int. J. Oral Maxillofac. Surg. 47, 188e198.

Nitzan, D.W., Franklin Dolwick, M., Martinez, G.A., 1991. Temporomandibular joint arthrocentesis: a simplified treatment for severe, limited mouth opening. J. Oral Maxillofac. Surg. 49, 1163e1167.

Bousnaki, M., Bakopoulou, A., Koidis, P., 2018. Platelet-rich plasma for the therapeutic management of temporomandibular joint disorders: a systematic review. Int. J. Oral Maxillofac. Surg. 47, 188e198.

Vos, L.M., Huddleston Slater, J.J.R., Stegenga, B., 2014. Arthrocentesis as initial treatment for temporomandibular joint arthropathy: a randomized controlled trial. J. Cranio-Maxillo-Fac. Surg. 42, e134ee139.

Machon, V., Hirjak, D., Lukas, J., 2011. Therapy of the osteoarthritis of the temporomandibular joint. J. Cranio-Maxillofacial Surg. 39, 127e130.

Hegab, A.F., Ali, H.E., Elmasry, M., Khallaf, M.G., 2015. Platelet-rich plasma injection as an effective treatment for temporomandibular joint osteoarthritis. J. Oral Maxillofac. Surg. 73, 1706e1713.

Comert Kilic, S., Gungormus, M., Sumbullu, M.A., 2015. Is arthrocentesis plus platelet-rich plasma superior to arthrocentesis alone in the treatment of temporomandibular joint osteoarthritis? A randomized clinical trial. J. Oral Maxillofac. Surg. 73, 1473e1483.

Chung, P.Y., Lin, M.T., Chang, H.P., 2019. Effectiveness of platelet-rich plasma injection in patients with temporomandibular joint osteoarthritis: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol. Oral Radiol. 127, 106e116.

Albilia, J., Herrera-Vizcaíno, C., Weisleder, H., Choukroun, J., Ghanaati, S., 2020. Liquid platelet-rich fibrin injections as a treatment adjunct for painful temporomandibular joints: preliminary results. Cranio 38, 292e304.

Schiffman, E., Ohrbach, R., Truelove, E., Look, J., Anderson, G., Goulet, J.P., et al., 2014. Diagnostic criteria for temporomandibular disorders (DC/TMD) for clinical and research applications: recommendations of the international RDC/TMD consortium network and orofacial pain special interest group. J. Oral Facial Pain Headache 28,6.

Goss, A.N., 1993. Toward an international consensus on temporomandibular joint surgery. Int. J. Oral Maxillofac. Surg. 22, 78e81. 
 
novi.jpg

Nathália Novaes

Nathália Novaes
  • Cirurgiã-Dentista | Centro Universitário Euro-Americano (UNIEURO) - Brasília
  • Pós-Graduanda em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial | Instituto Aria - Brasília
  • Extensionista do Projeto “Atendimento de Pacientes com Disfunções Temporomandibulares e Dor Orofacial” pela Universidade de Brasília (UNB) | Unidade: Hospital Universitário de Brasília (HUB)

Email: dranathalianovaes@gmail.com
Instagram: @dranathalianovaes