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Effect of comorbid migraine on propranolol efficacy for painful TMD in a randomized controlled trial

Resenha escrita por: Adriana Lira e Ana Conte

A disfunção temporomandibular (DTM) muscular, diagnóstico mais frequente em indivíduos com DTM dolorosa,    é frequentemente acompanhada pela migrânea. Essas são, portanto, condições comórbidas em função da inervação e anatomia do nervo trigêmeo, bem como pela sensibilização central. Previamente, o estudo OPPERA demonstrou que a presença da migrânea foi associada à maior gravidade e à maior incapacidade da DTM dolorosa(1).

Este estudo clínico randomizado multicêntrico(2), duplo cego, de fase 2b, faz parte do estudo SOPPRANO(3) (Study of Orofacial Pain and Propanolol) e se propôs a avaliar: 1) se a eficácia do propranolol para a DTM dolorosa é maior em participantes com migrânea em comparação aos que não a apresentam; 2) se a eficácia do propanolol na DTM dolorosa ocorreu por um efeito direto na redução da dor ou pela sua ação na alteração da frequência cardíaca.

O estudo recrutou 200 participantes com idade entre 18 e 65 anos com DTM muscular crônica (com ou sem artralgia), classificada de acordo com o DC/TMD. A amostra por intenção de tratar incluiu 199 participantes que foram alocados de maneira randomizada na proporção de 1:1 para os grupos propranolol ou placebo.

O propranolol de liberação prolongada (60 mg) ou o placebo foram administrados na seguinte posologia: uma vez ao dia por 1 semana, seguido de duas vezes ao dia por 8 semanas e, depois, reduzido para uma vez ao dia por 1 semana.

Os desfechos avaliados foram a DTM dolorosa (desfecho primário) por meio de um índice médio semanal de dor facial (FPI), baseado na intensidade e na duração da dor.  Esse índice foi calculado semanalmente nas semanas 1, 5 e 9 após a randomização. Os desfechos secundários incluíram: migrânea e cefaleia tipo tensional (CTT), incapacidade relacionada à cefaleia, incapacidade relacionada à dor por DTM, ansiedade e depressão e sinais vitais. 

Dos 199 participantes randomizados, 174 (87%) completaram o acompanhamento até a 9ª semana, com porcentagens iguais de participantes para cada  grupo de tratamento. Desses participantes, 52% apresentavam migrânea, 29% migrânea crônica e 30% migrânea com aura. As características demográficas e basais relacionadas à DTM foram semelhantes entre os participantes com e sem migrânea.

Na nona semana de avaliação, houve uma redução de 30% da DTM dolorosa nos indivíduos com migrânea, porém não houve redução da dor em pacientes sem migrânea. Além disso, não houve correlação significativa entre a redução da dor da DTM e a redução da cefaleia e a eficácia do propranolol no controle da dor da DTM foi relacionada ao efeito do medicamento sobre a frequência cardíaca. A migrânea e a DTM estão associadas à uma disfunção autonômica, na qual ocorre uma redução da variabilidade da frequência cardíaca. Como o propanolol tem um efeito mediador na frequência cardíaca, o alívio da dor da DTM pode ser explicado pela restauração da disfunção autonômica que, por sua vez, diminui a amplificação da dor.

Os autores concluem que a eficácia do propanolol na redução da  dor por DTM foi aumentada na presença de migrânea. Assim, o propranolol parece ser indicado para o manejo da DTM dolorosa em pacientes com esta comorbidade.

A DTM e as cefaleias primárias são comorbidades associadas e os pacientes que apresentam as duas condições podem responder de forma diferente às estratégias terapêuticas. Embora o estudo tenha demonstrado redução na DTM dolorosa, a melhora esteve presente apenas nos pacientes com migrânea. É importante ressaltar que o propanolol é um betabloqueador e tem efeitos colaterais importantes (bradicardia, redução da pressão arterial, tontura, dentre outros), devendo ser administrado com parcimônia, em casos pontuais e com supervisão de equipe transdisciplinar.

Referências:

1.    Tchivileva IE, Ohrbach R, Fillingim RB, Greenspan JD, Maixner W, Slade GD. Temporal change in headache and its contribution to the risk of developing first-onset temporomandibular disorder in the Orofacial Pain: Prospective Evaluation and Risk Assessment (OPPERA) study. Pain. 2017;158(1):120-9.

2.    Tchivileva IE, Ohrbach R, Fillingim RB, Lim PF, Giosia MD, Ribeiro-Dasilva M, et al. Effect of comorbid migraine on propranolol efficacy for painful TMD in a randomized controlled trial. Cephalalgia. 2021;41(7):839-50.
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Adriana Lira e Ana Lurdes Conte

Ana Lurdes Conte
  • Doutoranda em Clínicas Odontológicas, Universidade Cruzeiro do Sul – São Paulo, SP
  • Mestre e especialista em Ortodontia pela Universidade Sagrado Coração (UniSagrado) – Bauru, SP
E-mail: conteanalurdes@gmail.com
Instagram: @analurdes

Adriana de Oliveira Lira
  • Pós-Doutorado em Patologia Bucal – FOUSP; São Paulo, SP 
  • Doutora em Ciências Odontológicas –FOUSP; São Paulo, SP
  • Mestre em DTM e Dor Orofacial – UNIFESP; São Paulo, SP
  • Especialista em Odontopediatria – FUNDECTO; São Paulo, SP 
  • Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais – CFO

E-mail: aliraort@uol.com.br
Instagram: @odontopediatriaemevidencia