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The human masseter muscle revisited: First description of its coronoid part

Resenha escrita por: Rodrigo Wendel dos Santos

Este foi um estudo anatômico para avaliar e descrever uma terceira parte do músculo masseter, descrita, no estudo, como  parte coronóide. O trabalho demonstrou, de forma consistente, uma terceira parte do músculo masseter que se origina na superfície medial do processo zigomático do osso temporal e se insere na raiz e na margem posterior do processo coronóide da mandíbula1.  

Nos livros textos tradicionais, o músculo masseter é descrito com duas partes: a superficial e a profunda. Na trigésima oitava edição do Gray´s Anatomy,  o músculo masseter foi descrito com  partes superficial, intermediaria e profunda2. Essa descrição baseia-se em uma antiga descrição de von Haller (1784) que menciona que o músculo masseter poderia ter duas ou três camadas3. Nesse caso, a camada intermediária se originaria na parte medial dos dois terços anteriores e na porção inferior do terço posterior do arco zigomático e se inseriria na parte central do ramo mandibular. A camada profunda se originaria na superfície temporal do arco zigomático com inserção no processo coronóide da mandíbula. O estudo aponta ainda outras descrições divergentes na literatura, o que motivou a realização do trabalho. 

O estudo dissecou doze (12) cabeças humanas fixadas em formaldeído, analisou dezesseis (16) cabeças de cadáveres frescos, avaliou a ressonância magnética de um sujeito vivo e analisou cortes histológicos de uma cabeça humana fixada por formaldeído. 

Pela dissecação e análise macroscópica, foi identificado que a parte coronóide do masseter apresenta fibras com sentido diagonal e localiza-se abaixo da parte profunda do masseter. Sua origem é na região temporal do arco zigomático e possui fibras que se dirigem ântero-diagonalmente ao processo coronoide da mandíbula. 

A parte coronoide do masseter é inervada pelo ramo massetérico do nervo mandibular do nervo trigêmeo (V3) e é irrigada pelos ramos massetéricos da artéria maxilar.

As três partes do músculo masseter formam uma unidade funcional para estabilizar e elevar a mandíbula. Porém, vistas de forma isolada, as diferentes partes do músculo masseter podem trabalhar de forma sinérgica e até mesmo antagônica. A parte coronóide e a porção posterior da parte profunda do masseter podem trabalhar juntas de forma sinérgica para elevar a mandíbula. Porém, a direção das fibras da parte coronóide são perpendiculares às fibras da parte superficial do masseter, criando um musculo em forma de cruz, com as duas camadas exercendo função antagônicas, retraindo (parte cononóide) e protuindo a mandíbula (parte superficial) respectivamente. De todas as camadas do masseter, apenas a parte coronoide seria capaz de retrair a mandíbula.

Os autores sugerem que são necessários mais estudos para compreender melhor a função da parte coronóide do músculo masseter. No entanto, mencionam que a descrição de uma nova parte deste músculo  tem um significado não apenas anatômico, mas também clínico no que diz respeito ao tratamento das disfunções temporomandibulares (DTM) ou às intervenções cirúrgicas na região do arco zigomático.

O artigo traz uma descrição consistente e de relevância anatômica da parte coronóide do músculo masseter e cita uma possível importância clínica no âmbito da DTM; mas não descreve como isso poderia acontecer. Portanto, a lacuna sobre as implicações clínicas dessa descrição merece investigações futuras. 

Referências:

1. Mezey SE, Müller-Gerbl M, Toranelli M, Türp JC. The human masseter muscle revisited: First description of its coronoid part. Ann Anat. 2022 Feb;240:151879. doi: 10.1016/j.aanat.2021.151879. Epub 2021 Dec 2.PMID: 34863910

2. Williams, P.L. (Ed.), 1995. Gray`s Anatomy, 38th ed. Churchill Livingstone, New York.

3. von Haller, A., 1784. Grundriss der Physiologie für Vorlesungen. Konrad F. Uden, Berlin. 
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Rodrigo Wendel dos Santos

  • Graduação em Odontologia UNESP Araçatuba (2000)
  • Especialização em DTM e Dor Orofacial UNIFESP São Paulo (2002)
  • Mestrado Morfologia área de atuação DTM e Dor Orofacial UNIFESP São Paulo (2005)
  • Coordenador dos cursos de Pós-graduação em DTM e Dor Orofacial do Instituto Aria, Brasilia.

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