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Relationship between Insomnia and Pain in Patients with Chronic Orofacial Pain.

Resenha escrita por: DHANDARA ARAÚJO DE SOUSA

Estudo transversal investigou associações entre insônia e dor orofacial crônica (OFP) com uma amostra de 450 pacientes em uma clínica afiliada a uma universidade. O principal objetivo deste estudo foi quantificar a relação entre a sintomatologia de insônia e variáveis de dor, saúde mental e física em pacientes que buscaram tratamento para dor orofacial crônica (OFP).

A relação bidirecional entre dor crônica e má qualidade do sono, sugere que distúrbios do sono podem predizer de forma mais forte a intensidade futura da dor do que o contrário. A insônia primária é citada como uma das causas mais comuns de distúrbios persistentes do sono, com uma prevalência que pode chegar a até 50% em populações com dor crônica [1,2].

O estudo comparou as diferenças entre pacientes com e sem sintomatologia de insônia, além de analisar diferenças entre pacientes com diferentes subtipos de insônia. A hipótese é que pacientes com OFP e insônia apresentarão maior intensidade de dor, interferência mais significativa nas atividades diárias, piores resultados de saúde mental (sintomas de depressão/ansiedade, insatisfação com a vida) e maior número de comorbidades médicas em comparação com pacientes sem sintomatologia significativa de insônia.

A insônia é categorizada em subtipos, como a insônia de latência do sono (SOL-insônia) e a insônia de despertar matinal precoce (EMA-insônia), com diferentes impactos propostos na progressão da doença [3]. A insônia com duração de sono mais curto, é proposta como uma perturbação biologicamente mais severa [4]. Além disso, a insônia do tipo SOL  pode refletir um nível mais elevado de hiperexcitação e reatividade do sono relacionada ao estresse[5].

Essas distinções sugerem que diferentes subtipos de insônia tem bases biológicas e fisiológicas distintas. Além disso, devido à heterogeneidade das desordens de OFP, a pesquisa explora se as relações mencionadas diferem dentro de cada categoria diagnóstica da Classificação Internacional de Dor Orofacial (ICOP), encontrando diferenças significativas em relação à intensidade da dor, interferência relacionada à dor, sintomas de ansiedade/depressão e insatisfação com a vida em pacientes com insônia clinicamente elevada, diagnosticados com dor miofascial, dor articular e dor neuropática.

Metodologia

Todos os pacientes atendidos na Clínica de Dor Orofacial (OFP) completaram uma bateria de questionários psicológicos e de dor, além de passarem por um exame clínico detalhado de acordo com o protocolo DC/TMD[6]. Os pacientes foram examinados por um residente em OFP, e diagnosticados por um especialista em OFP com base na Classificação Internacional de Dor Orofacial (ICOP)[7], abrangendo códigos como dor orofacial atribuída a distúrbios de dentes, dor miofascial orofacial, entre outros.

Adultos entre 18 e 80 anos, buscando tratamento para uma queixa de OFP, com duração da dor superior a 3 meses foram incluídos. Uma revisão retrospectiva do prontuário médico foi realizada para todos os pacientes adultos, vistos em uma consulta inicial na clínica terciária de OFP afiliada à universidade, entre novembro de 2020 e março de 2023. A sintomatologia de insônia foi avaliada pelo Índice de Gravidade de Insônia (ISI), um questionário de 7 itens que aborda dificuldades de sono nas últimas 2 semanas. A soma de todos os itens resultou em uma pontuação total de 0 a 28, onde pontuações mais altas indicam maior sintomatologia de insônia (α=.90). Um ponto de corte de ISI ≥ 11 foi utilizado para sugerir sintomas clínicos de insônia.

A duração da dor foi registrada em meses. A intensidade da dor foi avaliada usando a Escala de Dor Crônica Graduada (GCPS), com uma escala numérica de dor variando de 0 a 10.

A interferência relacionada à dor com atividades usuais, recreativas, sociais, familiares e capacidade de trabalho nos últimos 30 dias também foi avaliada usando uma escala numérica de dor de 0 a 10.

Os sintomas de ansiedade/depressão foram medidos usando o Questionário de Saúde do Paciente (PHQ-4).
Todas as análises foram realizadas com um nível de significância de 0,05.

Para análise estatística foram utilizados testes t independentes para comparar pacientes com e sem SOL-insônia, e aqueles com e sem EMA-insônia. 
Os tamanhos de efeito entre os grupos foram calculados usando o D de Cohen. Modelos significativos foram reexecutados como ANCOVA para controlar fatores de confusão, como idade, sexo e intensidade da dor.
Todas as análises foram repetidas seis vezes, uma vez para cada categoria da Classificação Internacional de Dor Orofacial (ICOP).

Os valores de p para cada teste foram determinados pela correção de Holm-Bonferroni para comparação múltipla.
Essa metodologia proporcionou uma abordagem clara e padronizada para avaliar e classificar a presença de sintomas clínicos de insônia, e analisar as variáveis relacionadas à dor e saúde mental dos participantes.

A amostra incluiu 450 pacientes, predominantemente mulheres (82,2%), com uma idade média de 44,63 anos. A maioria dos pacientes (45,1%) apresentou insônia clinicamente elevada, conforme o Índice de Gravidade de Insônia (ISI). Pacientes com insônia clinicamente elevada demonstraram maior intensidade de dor, maior interferência da dor, maior sintomatologia de ansiedade/depressão, menor satisfação com a vida e um maior número de comorbidades médicas em comparação com aqueles sem insônia.

Pacientes com SOL-insônia apresentaram maior intensidade de dor, maior interferência da dor, maior sintomatologia de ansiedade/depressão e maior insatisfação com a vida em comparação com aqueles sem SOL-insônia.

Não foram encontradas diferenças significativas entre pacientes com EMA-insônia e aqueles sem EMA-insônia em nenhuma das variáveis analisadas.

Ao comparar os diferentes diagnósticos de Dor Orofacial (ICOP): Pacientes com dor miofascial, dor articular e dor neuropática que apresentaram insônia clinicamente elevada, demonstraram maior intensidade de dor, maior interferência da dor e maior sintomatologia de ansiedade/depressão em comparação com aqueles sem insônia.
Além disso, a satisfação com a vida foi significativamente menor em pacientes com insônia clinicamente elevada diagnosticados com dor miofascial, dor articular e dor de cabeça primária.

Entre aqueles com dor de cabeça primária, aqueles com insônia clinicamente elevada tiveram interferência da dor significativamente maior do que aqueles sem insônia.

Os resultados do estudo destacam uma associação significativa entre insônia, dor orofacial e saúde mental, demonstrando a importância de considerar a insônia como um fator relevante na avaliação e tratamento de pacientes com dor orofacial. Essa importância só aumenta, se levarmos em consideração que pacientes com dor orofacial frequentemente enfrentam problemas como bruxismo do sono, estresse emocional, ansiedade/depressão, todos os quais podem contribuir para a interrupção do sono.

Adicionalmente, os diferentes subtipos de insônia e diagnósticos de dor orofacial podem influenciar variáveis clínicas específicas, o que ressalta a necessidade de abordagens personalizadas no manejo desses pacientes. Por exemplo, compreender se um paciente apresenta SOL-insônia ou EMA-insônia pode fornecer informações valiosas sobre como sua condição de sono pode estar impactando sua dor orofacial e sua saúde mental. Dessa forma  intervenções multidisciplinares mais eficazes que abordem tanto o sono como a dor, permitirão uma abordagem terapêutica mais precisa e eficaz.

REFERÊNCIAS:

Alessandri-Bonetti A, Sangalli L, Boggero IA. Relationship between insomnia and pain in patients with chronic orofacial pain. Pain Med. 2024 Jan 22:pnae003. doi: 10.1093/pm/pnae003. Epub ahead of print. PMID: 38258535.

1 - Finan PH, Goodin BR, Smith MT. The association of sleep and pain: an update and a path forward. J Pain. 2013 Dec;14(12):1539-52. doi: 10.1016/j.jpain.2013.08.007. PMID: 24290442; PMCID: PMC4046588.

2- Taylor DJ, Mallory LJ, Lichstein KL, Durrence HH, Riedel BW, Bush AJ. Comorbidity of chronic insomnia with medical problems. Sleep. 2007 Feb;30(2):213-8. doi: 10.1093/sleep/30.2.213. Erratum in: Sleep. 2007 Jul 1;30(7):table of contents. PMID: 17326547.

3 - Bjorøy I, Jørgensen VA, Pallesen S, Bjorvatn B. The Prevalence of Insomnia Subtypes in Relation to Demographic Characteristics, Anxiety, Depression, Alcohol Consumption and Use of Hypnotics. Front Psychol. 2020 Mar 24;11:527. doi: 10.3389/fpsyg.2020.00527. PMID: 32265811; PMCID: PMC7105746.

4 - Vgontzas AN, Fernandez-Mendoza J, Liao D, Bixler EO. Insomnia with objective short sleep duration: the most biologically severe phenotype of the disorder. Sleep Med Rev. 2013 Aug;17(4):241-54. doi: 10.1016/j.smrv.2012.09.005. Epub 2013 Feb 16. PMID: 23419741; PMCID: PMC3672328.

5 - Kalmbach DA, Pillai V, Arnedt JT, Drake CL. Identifying At-Risk Individuals for Insomnia Using the Ford Insomnia Response to Stress Test. Sleep. 2016 Feb 1;39(2):449-56. doi: 10.5665/sleep.5462. PMID: 26446111; PMCID: PMC4712406.

6 - Schiffman E, Ohrbach R, Truelove E, Look J, Anderson G, Goulet JP, List T, Svensson P, Gonzalez Y, Lobbezoo F, Michelotti A, Brooks SL, Ceusters W, Drangsholt M, Ettlin D, Gaul C, Goldberg LJ, Haythornthwaite JA, Hollender L, Jensen R, John MT, De Laat A, de Leeuw R, Maixner W, van der Meulen M, Murray GM, Nixdorf DR, Palla S, Petersson A, Pionchon P, Smith B, Visscher CM, Zakrzewska J, Dworkin SF; International RDC/TMD Consortium Network, International association for Dental Research; Orofacial Pain Special Interest Group, International Association for the Study of Pain. Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (DC/TMD) for Clinical and Research Applications: recommendations of the International RDC/TMD Consortium Network* and Orofacial Pain Special Interest Group†. J Oral Facial Pain Headache. 2014 Winter;28(1):6-27. doi: 10.11607/jop.1151. PMID: 24482784; PMCID: PMC4478082.

7 - International Classification of Orofacial Pain, 1st edition (ICOP). Cephalalgia. 2020 Feb;40(2):129-221. doi: 10.1177/0333102419893823. PMID: 32103673.
 

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Dhandara Araújo De Sousa


Graduação Em Odontologia – Universidade Federal Do Espírito Santo
Especialista Em Ortodontia – Unigranrio/Rj
Mestranda Em Dtm/Dof – São Leopoldo Mandic/ Campinas
Pós-Graduação Dtm/Dof – Instituto Dental Press/Pr
Prof. Colaboradora Do Projeto Alívio Dtm/Dof – Universidade Federal Do Espírito Santo.

Email: Dhandsousa@Gmail.Com
Instagram: @Dhandara