O que estou estudando

Iniciei minha trajetória profissional na  minha clinica privada em Patrocínio/MG, atuando nas especialidades Odontopediatria e Ortopedia Funcional dos Maxilares (OFM). Entretanto, muitos pacientes adultos de OFM apresentavam também a queixa de dor orofacial, queixa essa que, em alguns, permanecia e, em outros, não. Então, decidi dedicar meus estudos à compreensão dos mecanismos da dor orofacial. 

Em 2011, concluí o X Curso de Avaliação e Tratamento Interdisciplinar em Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, coordenado pelo prof. José Tadeu Tesseroli de Siqueira em São Paulo/SP. Em 2012, fiz o  Aperfeiçoamento em Dor Orofacial (DOF) e Disfunção Temporomandibular (DTM) no Instituto de Educação em Odontologia (IEO) de Bauru/SP e, nos anos 2013 e 2014, concluí o curso de Especialização em DOF e DTM, no mesmo instituto, ambos coordenados pelo Prof. Paulo Conti (Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo). Já na especialização, a complexidade da interrelação entre sono e dor orofacial me intrigava muito e decidi estudar o tema, tendo desenvolvido meu TCC sobre a relação entre os dois fenômenos: sono e dor. Em seguida,  fui em busca de mais conhecimentos sobre a neurobiologia do sono e os distúrbios do sono. Concluí, em 2015, o Curso Avançado em Medicina e Odontologia do Sono no Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), coordenado pela Profª Cibele Dal Fabbro, e, posteriormente,  fui aprovada e certificada em Odontologia na Medicina do Sono pela Associação Brasileira do Sono (ABS). 

A oportunidade de ingresso na vida  acadêmica veio somente recentemente. Atualmente, estou finalizando o mestrado acadêmico em Clinica Odontológica Integrada na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), coordenado pelo Prof Paulo Simamoto. Seguindo minha área de estudo e interesse maior, decidi investigar especificamente a associação entre a Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) e DTM.

A AOS é um dos distúrbios do sono mais comuns em pacientes com DTM, que  pode preceder o início da DTM ou piorar os sintomas, afetando negativamente a resposta ao tratamento^1-4. A busca na literatura por revisões sistemáticas já publicadas sobre a associação entre AOS e DTM revelou apenas uma revisão sistemática de prevalência, publicada em 2013, abordando a qualidade do sono em geral (incluindo todos os distúrbios do sono, não somente AOS) e DTM. Sendo assim, optei por fazer uma Revisão Sistemática (RS) com meta-análise (MA) de associação, cujo objetivo foi investigar a associação entre AOS e DTM.  Finalizei a MA e a verificação da certeza da evidência e estou em fase de redação do artigo. Foram elegíveis estudos transversais, de coorte e caso-controles com diagnóstico da DTM pelo Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD) ou Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (DC/TMD) e com grupo controle comparativo. Dos 1024 artigos selecionados, apenas seis atenderam aos critérios de inclusão para análises quantitativas. Desses, a AOS foi avaliada por polissonografia (PSG) em apenas dois artigos e, nos outros quatro, por questionários validados (que sugerem sinais e sintomas de AOS). Os pacientes com DTM tiveram uma associação estatisticamente positiva com AOS (OR=3,06; IC 95%=1,72 a 5,44). Nesse contexto, a triagem de AOS deve ser parte rotineira da avaliação diagnóstica de pacientes com DTM. Assim, devido aos vários métodos de avaliação da AOS utilizados e ao pequeno número  de estudos incluídos, faz-se  necessário um número maior de estudos com diagnóstico da AOS  por  PSG para melhor investigação dessa associação. Os resultados desse estudo serão apresentados no Congresso Brasileiro do Sono 2022 e  submetidos para publicação.

Está também em fase de execução a minha pesquisa clinica  no Ambulatório de DTM da UFU, na qual, além de questionários validados, estou utilizando a Poligrafia tipo IV – Oximetria noturma  como método de screening  da OSA. É sabido que  a impressão clínica, baseada na anamnese e no exame físico, é importante, porém insuficiente para o diagnostico da AOS, que requer confirmação objetiva. O método padrão ouro para o diagnostico da AOS é a PSG. Porém, sua utilização é restrita pelo alto custo e difícil acesso. A oximetria (OX) noturna é um instrumento de monitoramento validado, de baixo custo e de fácil acesso para o diagnóstico  da AOS moderada a grave⁵. A OX noturna mensura o Índice de Dessaturação de Oxigênio (IDO), que é o número médio de episódios de dessaturação por hora, uma importante variável para o diagnóstico da AOS. Nesse sentido, o objetivo do estudo é avaliar a influência do IDO na qualidade do sono, nas características da dor e nos fatores psicológicos em pacientes com DTM dolorosa. É um estudo observacional, analítico, do tipo caso/controle.

A nossa hipótese experimental é de que maiores scores  de IDO  interferem  na qualidade do sono, influenciam  negativamente  a intensidade e duração de dor e  os  fatores psicológicos  em indivíduos com DTM dolorosa. Já obtivemos os resultados do estudo piloto, que  foram  apresentados na reunião da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO) 2022 e  no IASP 2022 World Congress on Pain em Toronto, Canadá. Nesse estudo preliminar, 20  pacientes (45,7 ± 13,2 anos)  foram selecionados com base nos critérios diagnósticos para DTM do DC/TMD e responderam os questionários para catastrofização, sintomas de ansiedade, apneia subjetiva, sonolência, qualidade do sono e características da dor. Avaliou-se o limiar de dor à pressão (LDP) por algometria dos músculos mastigatórios e articulação temporomandibular.

Foi realizada oximetria digital por uma noite (Oxistart, Biologix). A amostra foi dividida em  controles (IDO < 5) e AOS compatíveis (IDO ≥ 5).  O IDO foi  significativamente associado à qualidade de sono, mas não às características de dor e fatores psicológicos. Esta pesquisa clinica continua em andamento e, em breve, teremos os resultados em uma amostra mais robusta e homogênea, o que nos permitirá confirmar ou não os resultados preliminares observados.  Seguimos na busca da verificação da correlação do IDO,  características da dor e aspectos psicossociais. Esses dados  serão de extrema valia para a adoção de protocolos complementares no diagnóstico e terapia de pacientes com DTM.

Referências: