Entrevista

Profa. Dra Martha Maria Campos

Neste capítulo do Entrevista SBDOF, tivemos o prazer e oportunidade de entrevistar a Profa. Dra Martha Maria Campos.

A Profa. Martha é graduada em Odontologia, com Mestrado e Doutorado em Farmacologia, pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Fez pós-doutorado na Universidade de Montréal e na UFSC. É Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, desde 2006. Foi Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Odontologia PUCRS. Atualmente, é Diretora de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da PUCRS.

Em nome da Sociedade Brasileira de Dor Orofacial (SBDOF), agradecemos sua gentileza e disponibilidade por compartilhar conosco seu conhecimento e experiência.

Conhecendo o seu currículo percebemos que suas linhas de pesquisa estão relacionadas às alterações inflamatórias e processos dolorosos associados a doenças importantes. As Disfunções Temporomandibulares e Dores Orofaciais estão relacionadas a muitas doenças crônicas e estão presentes nas suas pesquisas. O que despertou seu interesse para estudar essa área?

Os quadros de dor crônica representam condições com impactos profundos na qualidade de vida dos indivíduos afetados, comprometendo a vida pessoal e profissional. Nos casos de dor orofacial crônica, as comorbidades associadas e os sintomas intensos produzem níveis de sofrimento bastante intensos, limitando ainda mais as atividades diárias. Como nos outros tipos de dor crônica, os mecanismos envolvidos ainda não são totalmente claros e novas investigações são necessárias, especialmente considerando-se a falta de opções terapêuticas efetivas em alguns casos, além dos efeitos adversos observados.  

Sabemos que muitas vezes o especialista em DTM e DOF precisa lançar mão de recursos farmacológicos nas condutas terapêuticas de seus casos. Ainda é comum a utilização de protocolos antigos e já sem comprovação científica nos tratamentos. Como você vê o uso desses recursos no dia a dia clínico da especialidade?

Infelizmente, parte dos profissionais envolvidos no manejo de pacientes com dor orofacial crônica, incluindo DTM, acabam passando por vários profissionais da saúde, sem acesso a um plano de tratamento interdisciplinar, o que seria fundamental para melhorar a qualidade de vida, reduzindo as limitações relacionadas aos quadros de dor. Seria importante melhorar a formação sobre dor orofacial crônica em diferentes níveis, desde a graduação até a pós-graduação. Considerando-se a evolução recente das pesquisas na área, torna-se fundamental acompanhar a literatura científica e o estado da arte do tema para que seja possível adotar medidas com comprovação científica. 

Diversas DTM seguem um curso crônico. Na sua opinião, quais são as classes farmacológicas mais indicadas nos casos crônicos e como atuam?

Os quadros de DTM são diversos e envolvem mecanismos patofisiológicos que ainda não são totalmente esclarecidos. Nesses casos, apenas a terapia farmacológica pode não ser suficiente para o controle da dor. Ademais, na maioria das vezes, fármacos clássicos para o tratamento da dor, como analgésicos não opioides e opioides, além de anti-inflamatórios não esteroidais apresentam eficácia limitada. Nesses casos, além de medidas não farmacológicas, pode-se utilizar fármacos antidepressivos, anticonvulsivantes, ansiolíticos e relaxantes musculares de ação central, a fim de reduzir a severidade da dor. Nesses casos, busca-se modular as vias inibitórias descendentes da dor, além de canais iônicos relacionados com a transmissão dolorosa. 

Suas pesquisas de mecanismos envolvidos nas alterações inflamatórias e nociceptivas da região orofacial mostraram novas alternativas terapêuticas que podem ser sugeridas na prática clínica?

Dentre as novas alternativas testadas, destacam-se os derivados do ômega-3, como o ácido docosaexaenoico (DHA), além de agonistas sintéticos dos receptores da mesma família, como o GW9508. Outras alternativas estão focadas em antagonistas seletivos do receptor NOP, um membro da família de receptores opioides, que não responde à morfina. 

Sabemos que você tem linhas de pesquisa que estudam biomarcadores salivares. Existe já alguma relação com Dores Orofaciais e DTM nessa área?

Temos evidências recentes que pacientes com dor crônica orofacial, em especial aqueles com deformidades dentofaciais, apresentam níveis salivares elevados de glutamato, um transmissor excitatório, e de interleucina-1β, um importante mediador inflamatório. Esses biomarcadores podem ser úteis como ferramentas diagnósticas, mas também contribuem para a identificação e desenvolvimento de novas alternativas para o tratamento da dor crônica. 

A relação de Fibromialgia e DTM é bastante conhecida. Existe alguma novidade no tratamento concomitante dessas patologias? 

No momento ainda há uma limitação importante para o tratamento da fibromialgia e da DTM quando se apresentam como comorbidades. Isso está relacionado com a falta de modelos experimentais que combinem as duas condições. Recentemente, temos conduzido estudos com novos modelos, com o objetivo de permitir a investigação de novas alternativas terapêuticas para as duas condições. 

Entendendo que muitos casos exigem tratamento multidisciplinar, como você vê a relação do especialista em DTM e DOF na escolha de fármacos junto com uma equipe multidisciplinar?

O Cirurgião-dentista precisa trabalhar em colaboração com outros profissionais da saúde, em especial, médicos neurologistas e psiquiatras, além de fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos. Os pacientes com dor orofacial crônica, incluindo as DTM, necessitam de uma abordagem abrangente, com mudanças dos hábitos de vida, além de tratamento farmacológico com monitoramento constante. 
 
WhatsApp Image 2024-04-22 at 11.48.47.jpeg

Profa. Dra Juliana Stuginski Barbosa

Doutora em Ciências Odontológicas Aplicadas pela Faculdade de Odontologia de Bauru - USP

Mestre em Neurociências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP

Especialista em Disfunção Têmporo-mandibular e Dor Orofacial

Rede Social:
@dtmdororofacial