O que estou estudando

Joanna Trycia Magalhães Alexandre Lima

Minha trajetória acadêmica teve início ainda na graduação, quando tive a oportunidade de participar da iniciação científica no Laboratório de Farmacologia de Sobral (LaFS) da Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral (UFC-Sobral). Lá, iniciei meus conhecimentos em pesquisa científica sobre dor e inflamação e comecei a me interessar pela docência. Nosso grupo de pesquisa no LaFS tem trabalhado no desenvolvimento de novos compostos para a terapêutica da DTM dolorosa. Dentre as possíveis dores que podem acometer o corpo humano, sabe-se que a dor orofacial se apresenta de forma muito importante e impactante, pois a região craniofacial tem papel biológico, emocional e psicológico especial para os indivíduos, por apresentar uma região com maiores sítios de representatividade dolorosa no cérebro, na área do córtex somatossensorial.

Após concluir a graduação, ingressei no Mestrado em Ciências da Saúde na UFC-Sobral, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Hellíada Vasconcelos Chaves, quando trabalhei com modelos pré-clínicos de dor e inflamação. Minha paixão por DTM e Dor Orofacial continuou a crescer. Mesmo enquanto fazia especialização em ortodontia em 2019, meu interesse pela Dor Orofacial se manteve firme, levando-me a buscar uma capacitação em DTM. Em 2021, tive minha primeira experiência como professora substituta na UFC/Sobral e, em 2022, ministrei pela primeira vez a disciplina de DTM e Dor Orofacial. Com o desejo de unir meu grande interesse pela docência e pela pesquisa, ingressei no Doutorado em Odontologia, com uma pesquisa focada na dor orofacial em modelos pré-clínicos, incorporando ainda uma nova paixão: a Cannabis sativa.

Minha pesquisa nessa área começou no início do doutorado, impulsionada pela flexibilização mundial do uso de produtos à base de cannabis e pela ainda limitação científica sobre seus mecanismos. Em 2019, a ANVISA emitiu uma resolução autorizando a comercialização, prescrição e dispensação de produtos à base de cannabis para fins medicinais, com validade de 5 anos, o que despertou nosso interesse no tema. A aplicação de produtos à base de cannabis em Odontologia, incluindo na dor orofacial, ainda apresenta suporte científico limitado, apesar de demonstrar resultados promissores em várias condições clínicas. No caso das DTMs, uma revisão sistemática realizada por Votrubec e colaboradores, em 2022, revelou apenas um estudo comprovando a eficácia da cannabis no tratamento da dor orofacial, mas sem uma compreensão clara dos mecanismos de ação. É sabido que o sistema endocanabinoide desempenha um papel relevante no processamento e modulação da dor, porém são necessárias mais pesquisas para compreender os mecanismos envolvidos e propor o uso da cannabis como uma ferramenta terapêutica eficaz.

O objetivo do nosso estudo é investigar a participação do sistema endocanabinoide na via de dor trigeminal e sua interação com os receptores TRPS e NMDA, por meio de estudos in sílico, in vitro e in vivo. Essa proposta contribuiu para o fortalecimento da nossa linha de pesquisa, resultando na formação do Grupo de Pesquisa em Cannabis e Dor (CannDor - @canndor.ufc), que atualmente conta com 13 membros entre alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. As pesquisas pré-clínicas têm trazido importantes contribuições científicas para as lacunas de conhecimento ainda existentes, e o grupo pretende trazer à luz da ciência novas compreensões sobre a fisiopatologia do sistema endocanabinoide.

A Cannabis sp. pode se apresentar, assim, como uma aliada promissora no tratamento da dor crônica. Embora reconhecida há muito tempo por suas propriedades terapêuticas, a planta ainda enfrenta preconceitos, mas oferece uma esperança para contribuir para o tratamento de dores orofaciais crônicas. À medida que as pesquisas avançam, e os estigmas associados ao uso da cannabis diminuem, abre-se um caminho para explorar todo o seu potencial no alívio do sofrimento e na melhora da qualidade de vida de pacientes com condições dolorosas debilitantes. Seu uso regulamentado, quando cuidadosamente conduzido, pode ser a chave para inaugurar um novo capítulo no tratamento da dor orofacial, especialmente daquelas refratárias e de difícil controle. Portanto, é fundamental aprofundar o conhecimento sobre o sistema endocanabinoide e sobre os mecanismos de ação da cannabis para embasar tratamentos seguros e baseados em evidências científicas.
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Joanna Trycia Magalhães Alexandre Lima

Minicurrículo
 
  • Graduada em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral (UFC-Sobral)
  • Especialista em Ortodontia pelo Instituto Educacional e de Serviços Odontológicos (IESO).
  • Mestra em Ciências da Saúde pela UFC-Sobral.
  • Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Odontologia (UFC).

E-mail: joannatrycia@gmail.com    Instagram: @dratryciamagalhães