O que estou estudando

Giovana Fernandes

Aos doze anos de idade, durante uma aula de fotossíntese, decidi que seria cientista. Na verdade, não sabia muito o que significava ser cientista, mas sabia que para realizar meu primeiro projeto de pesquisa, precisaria me tornar uma. O primeiro projeto de pesquisa de uma criança de doze anos era acabar com a fome no mundo! Tinha em mente que se eu conseguisse implantar clorofila nas pessoas, todos fariam fotossíntese. Como toda criança, tinha grandes sonhos! Sonhos esses que sempre tiveram o apoio dos meus pais que me diziam que eu poderia ser aquilo que eu quisesse ser. Ao crescer, percebi que não seria possível fazer seres humanos fazer fotossíntese, mas também percebi que a ciência é capaz de mudar o mundo.

Me graduei em Odontologia no ano de 2007. No segundo ano de graduação, conheci a especialidade de DTM e Dor Orofacial. Foi amor à primeira vista! Me apaixonei na primeira aula e logo fui buscar conhecer mais sobre o assunto. Tive a oportunidade fazer iniciação científica na área até o final da graduação. Na iniciação científica, estudei bruxismo do sono sob a orientação da Profa. Dra. Cinara Maria Camparis. Tive o grande privilégio de tê-la como minha orientadora e grande incentivadora do meu sonho de me tornar cientista. Durante o mestrado e o doutorado tive como tema principal de estudo o bruxismo do sono ainda sob a orientação da Profa. Cinara. Parte do meu projeto de doutorado foi desenvolvido na Universidade de Amsterdam sob a orientação do Prof. Dr. Frank Lobbezoo. Sempre muito curiosa, conheci todos os projetos que estavam em andamento em seu departamento. Lá pude ver além do bruxismo do sono. Conheci o sono de um forma que vai muito além dos seus distúrbios. Quando retornei ao Brasil, quis estudar mais sobre sono e fazer o pós-doutorado focando nas características subjetivas do sono em adolescentes com DTM. Durante um ano fiz o curso de capacitação em Odontologia do Sono e escrevi meu projeto de pós-doutorado sob a supervisão da Profa. Dra. Daniela Godoi Gonçalves, que sempre me incentivou a trilhar esse novo caminho de pesquisa. Curiosamente, meu projeto de pós-doutorado mostrou que adolescentes com DTM dolorosa não apresentam nenhum distúrbio do sono associado, mas apresentam despertares noturnos frequentes e queixa de sono não reparador. Esses resultados, nos mostram a importância de investigar as queixas e características do sono em si e não somente os distúrbios do sono. 

A literatura atual mostra que baixa qualidade de sono parece ser um preditor para o início e manutenção da dor por DTM. Por isso, melhorar a qualidade do sono pode ser uma estratégia adicional para tratamento da DTM dolorosa. Com base nisso, atualmente estou desenvolvendo e orientando um projeto de mestrado que tem como objetivo avaliar a eficácia da higiene do sono no tratamento da DTM dolorosa. Ainda, esse projeto será capaz de desenvolver um protocolo cientificamente validado de higiene do sono que poderá ser implementado aos autocuidados praticados pelos pacientes com DTM. Apesar de muitos programas de autocuidados já adotarem a higiene do sono, todos que a adotam são com instruções parciais e sem um protocolo específico.

A higiene do sono é uma estratégia simples, de fácil acesso e não farmacológica para tratamento de problema relacionados ao sono. Consiste na adoção de um conjunto de bons comportamentos, rotinas e condições ambientais que possibilitam uma melhor qualidade do sono. Na higiene do sono, os pacientes aprendem hábitos saudáveis e são encorajados a seguir recomendações para melhorar a qualidade de sono. A literatura científica tem demonstrado que modalidades comportamentais e educacionais são ferramentas úteis e efetivas na melhora da qualidade de sono. A higiene do sono parece ser particularmente importante em pacientes com dor crônica, pois estudos prévios mostraram que estes possuem alterações negativas no comportamento e rotina de sono, tais como cochilos e horários irregulares para dormir.

Nosso estudo, trata-se de um estudo clínico cego para o examinador, randomizado, controlado. A amostra será composta por 54 participantes apresentando DTM dolorosa e baixa qualidade do sono. Os participantes serão divididos em dois grupos, grupo controle que receberá os autocuidados para DTM e o grupo experimental que além dos autocuidados para DTM receberá as instruções de higiene do sono. Durante os seis meses de tratamento, serão avaliados se houve melhora no grau de dor crônica, limitação funcional e hábitos de sono. 

Se o protocolo de higiene do sono adotado no presente estudo se mostrar eficaz, será de grande relevância, desde que medidas simples adotadas na higiene do sono, poderão colaborar para redução da dor e melhora da função mandibular. Tais benefícios podem se estender a pacientes de todas as classes sociais, já que são medidas simples e de baixo custo. Dessa forma, podemos reduzir o sofrimento dos pacientes e em algum grau, também a necessidade de tratamentos de alto custo acessível a pequena parcela da população. Os benefícios estendem-se também a sociedade como um todo à medida que pode diminuir a incapacidade muitas vezes presente e os custos para os sistemas de saúde. 

O presente projeto é orientado por mim e coorientado pelo Prof. Dr. Yuri Martins Costa. Ainda, conta com o apoio da Profa. Dra. Daniela Godoi Gonçalves como Pesquisadora Associada. 

Por enquanto, não temos dados prévios. Espero em breve, com a coleta dos dados, poder compartilhar os resultados com vocês!
Referências:

Fernandes G, van Selms MKA, Lobbezoo F, et al. Subjective sleep complaints were associated with painful temporomandibular disorders in adolescents: The Epidor‐ Adolescere study. J Oral Rehabil. 2022;49(9):849-859. doi:10.1111/joor.13344

Sanders AE, Akinkugbe AA, Bair E, et al. Subjective Sleep Quality Deteriorates before Development of Painful Temporomandibular Disorder. J Pain. 2016;17(6):669-677. doi:10.1016/j.jpain.2016.02.004

Irish LA, Kline CE, Gunn HE, Buysse DJ, Hall MH. The role of sleep hygiene in promoting public health: A review of empirical evidence. Sleep Med Rev. 2015;22:23-36. doi:10.1016/j.smrv.2014.10.001

McHugh RK, Edwards RR, Ross EL, Jamison RN. Does bedtime matter among patients with chronic pain? A longitudinal comparison study. PAIN Reports. 2019;4(3):e747. doi:10.1097/PR9.0000000000000747
 
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Giovana Fernandes

Minicurrículo

Graduada em Odontologia pela Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP

Mestre e Doutora em Reabilitação Oral pela Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP

Especialista em DTM e Dor Orofacial pelo Conselho Federal de Odontologia

Capacitada em Odontologia pelo Instituto do Sono de São Paulo

Professora Assistente da Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP

 
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