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Bruxism, temporomandibular disorders, and headache—a narrative review of correlations and causalities

Resenha escrita por: Rafael Tardin Rosa Ferraz Gonçalves

Objetivo:  

O estudo pretende realizar uma revisão narrativa detalhada das interações entre bruxismo, disfunções temporomandibulares (DTM) e dores de cabeça, com foco nas correlações e possíveis causalidades entre essas condições. O objetivo é identificar as lacunas na literatura, especialmente no que diz respeito à definição e critérios de avaliação do bruxismo. Além disso, o estudo enfatiza a importância de um consenso para melhorar a precisão diagnóstica. Também destaca a necessidade de pesquisas adicionais, tanto experimentais quanto clínicas, para esclarecer as relações causais, promovendo uma colaboração interdisciplinar que otimize o tratamento e manejo de pacientes com essas condições.

Metodologia:

A metodologia deste estudo abrange os seguintes aspectos:

Revisão da Literatura: Os autores realizaram uma revisão independente da literatura disponível até setembro de 2023, utilizando repositórios de referência como PubMed (MEDLINE), Web of Science e Cochrane Library. Os termos de busca incluíram "bruxismo", "DTM", "disfunção temporomandibular", "dor de cabeça", "enxaqueca" e "cefaléia do tipo tensional", além de combinações envolvendo subtipos de dor de cabeça e distúrbios dentários.

Análise dos Estudos Existentes: O estudo revisa e discute a literatura sobre a coocorrência de bruxismo, DTM e dores de cabeça, abordando a considerável sobreposição nos sinais clínicos e as diferentes perspectivas de especialistas em áreas como odontologia, dor orofacial e neurologia.

Propostas para Estudos Futuros: Os autores sugerem a realização de estudos experimentais, incluindo um estudo de coorte longitudinal com grupos distintos (indivíduos saudáveis, pacientes com enxaqueca e com cefaleia do tipo tensional). Esse estudo proposto empregaria técnicas avançadas, como polissonografia (PSG), eletromiografia (EMG) durante o sono e medições de força de mordida, para monitorar a atividade do bruxismo e correlacioná-la com a frequência e intensidade das dores de cabeça, levando em conta variáveis de confusão, como fatores psicossociais.

Discussão dos Mecanismos: O estudo propõe a realização de ensaios clínicos randomizados para investigar a interação entre bruxismo e dores de cabeça, distinguindo entre efeitos fisiológicos genuínos e respostas placebo, com o objetivo de esclarecer a natureza da relação entre essas condições.

Resultados:

A revisão narrativa sobre bruxismo, disfunções temporomandibulares (DTM) e dores de cabeça trouxe as seguintes conclusões principais:

Coocorrência e Correlações: A revisão confirmou que é comum a coocorrência de bruxismo, DTM e dores de cabeça entre os pacientes. No entanto, as evidências sobre a natureza dessa associação são contraditórias. Embora essas condições sejam altamente prevalentes, ainda não está claro se a associação é meramente coincidente ou se há relações causais subjacentes.

Diferenças entre Bruxismo do Sono e da Vigília: Os autores destacaram a importância de diferenciar entre bruxismo do sono e bruxismo da vigília, pois os mecanismos fisiopatológicos e os impactos nas dores de cabeça podem diferir. As evidências sugerem que o bruxismo da vigília está mais associado a cefaleias tensionais, enquanto o bruxismo do sono pode ter uma relação mais complexa com a enxaqueca.

Fatores Psicossociais como Variáveis de Confusão: A revisão identificou que fatores psicossociais, como estresse e ansiedade, podem atuar como variáveis de confusão nas relações entre bruxismo, DTM e dores de cabeça. Esses fatores podem influenciar tanto a gravidade das condições quanto a percepção da dor pelos pacientes, dificultando a interpretação dos dados.

Necessidade de Estudos Futuros: Os autores enfatizaram a necessidade de mais estudos experimentais e longitudinais para esclarecer as relações causais entre bruxismo e dores de cabeça. Eles sugerem que um estudo de coorte envolvendo grupos distintos (indivíduos saudáveis, pacientes com enxaqueca e com cefaleia tensional) poderia fornecer insights valiosos sobre a frequência e intensidade das dores de cabeça em relação à atividade do bruxismo.

Desafios na Avaliação do Bruxismo: A revisão também evidenciou a falta de consenso sobre os métodos de avaliação do bruxismo, com diferentes estudos utilizando critérios variados, o que dificulta a comparação e a validade dos resultados. A necessidade de critérios padronizados e o uso de técnicas como a eletromiografia (EMG) foram mencionados como essenciais para uma compreensão mais precisa dos subtipos de bruxismo e suas associações com DTM e dores de cabeça.

Conclusão:

A revisão narrativa sobre bruxismo, disfunções temporomandibulares (DTM) e dores de cabeça destaca que, embora a coocorrência dessas condições seja amplamente reconhecida, as evidências disponíveis não suportam uma relação causal clara e direta entre elas. A complexidade dessas interações é agravada pela falta de consenso em definições e métodos de avaliação do bruxismo, o que limita a comparabilidade e a validade dos estudos existentes. A distinção entre bruxismo do sono e bruxismo da vigília é especialmente relevante, pois os mecanismos fisiopatológicos e os impactos nas dores de cabeça podem diferir significativamente, com o bruxismo da vigília possivelmente associado a cefaleias tensionais.

Fatores psicossociais, como estresse e ansiedade, emergem como variáveis de confusão que podem influenciar tanto a gravidade das condições quanto a percepção da dor pelos pacientes. Para avançar na compreensão dessas relações complexas, é essencial que futuros estudos sejam realizados com um desenho experimental robusto, como coortes longitudinais que incluam grupos distintos de indivíduos. Esses estudos devem investigar não apenas a frequência e a intensidade das dores de cabeça em relação à atividade do bruxismo, mas também considerar a influência de fatores psicossociais e outras comorbidades.

Por fim, a colaboração interdisciplinar entre médicos, dentistas e especialistas em dor é fundamental para padronizar critérios diagnósticos e metodológicos, promovendo uma abordagem mais integrada e eficaz no tratamento dessas condições. Pesquisas futuras devem se concentrar em estabelecer uma base sólida para entender as inter-relações entre bruxismo, DTM e dores de cabeça, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados.

O estudo revisado explora as correlações e possíveis causalidades entre bruxismo, disfunção temporomandibular (DTM) e cefaleias, fornecendo informações valiosas que podem impactar a prática clínica de várias formas. Primeiramente, a pesquisa destaca a complexidade da relação entre essas condições e a necessidade de diagnósticos precisos, uma vez que há uma sobreposição significativa nos sintomas, o que pode levar a erros diagnósticos. Isso sugere que os clínicos devem adotar uma abordagem cuidadosa ao avaliar pacientes com esses sintomas para evitar diagnósticos incorretos e tratamentos inadequados.
Na minha opinião este estudo nos mostra uma relação bidirecional com uma correlação importante entre bruxismo, disfunções temporomandibulares (DTM) e dores de cabeça, destacando como essas condições frequentemente coexistem e se influenciam mutuamente na prática clínica. O bruxismo, tanto do sono quanto de vigília, pode estar associado a dores de cabeça, como enxaqueca e cefaleia tensional, sugerindo que deve ser investigado como um possível fator agravante. Além disso, a DTM é comumente encontrada em pacientes com dores de cabeça, indicando que tratamentos direcionados à redução da tensão muscular e ao uso de dispositivos orais podem ser eficazes. O estudo também enfatiza a importância de considerar fatores psicossociais, como estresse e ansiedade, que podem influenciar a gravidade dessas condições crônicas. A integração dessas correlações na prática clínica orienta para diagnósticos mais precisos, tratamentos personalizados e uma abordagem multidisciplinar, envolvendo dentistas, neurologistas, fisioterapeutas e psicólogos, para otimizar o manejo e melhorar os resultados dos pacientes.​

Referência:

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Autor

Graduado em Fisioterapia e Odontologia. Especialista em DTM e DOF; Mestrando em Ciências da Saúde pela Faculdade Ciências Médicas Belo Horizonte MG. Coordenador e Professor de cursos de Especialização e aperfeiçoamento em DTM e DOF. Coordenador da clínica escola (ABO - BH) de DTM e DOF. Revisor científico do Jounal of Oral Health and Dental Care. Membro da Sociedade Brasileira de DTM e DOF (SBDOF). Corpo clínico do Hospital Mater Dei e Hospital das Clínicas setor de dor e DTM.

rafael.tardin@hotmail.com |@drrafael.tardin.