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O efeito analgésico do ozônio em dores musculares na região orofacial: um estudo randomizado duplo-cego controlado

Resenha escrita por: Tássia Tillemont Machado

Volume IV Número XIV - Publicação realizada em 16/12/2021

Effect of high-frequency bio-oxidative ozone therapy for masticatory muscle pain: a double-blind randomised clinical trial

Este estudo randomizado duplo-cego controlado avaliou o efeito analgésico do ozônio em dores musculares na região orofacial. Ao comparar o ozônio bio-oxidativo de alta frequência na intensidade de 60% numa concentração que variou de 10 a 100 μg/ml ao placebo, o tratamento com ozônio apresentou efeito analgésico superior ao placebo durante os 3 meses pós tratamento, período de seguimento do estudo. 

Foram selecionadas 40 mulheres com diagnóstico de dor miofascial segundo os Critérios de Diagnóstico de Pesquisa para Desordem Temporomandibular (RDC/TMD), que foram separadas aleatoriamente em 2 grupos: o grupo ozônio e o grupo ozônio simulado (placebo). Ozônio e placebo foram aplicados três vezes por semana, em um total de seis sessões, no ponto de maior dor nos músculos masseter ou temporal. As participantes foram avaliadas por um mesmo profissional (cego quanto ao tratamento recebido) antes, 1 e 3 meses após o tratamento. As avaliações consistiam de exame funcional (movimentos mandibulares – máxima abertura não assistida, protrusão, lateralidade direita e esquerda), limiar de dor à pressão e aferição da intensidade da dor através de escala visual analógica (EVA).

O grupo ozônio apresentou limiar de dor à pressão nos músculos masseter, temporal e no polo lateral da ATM significativamente maiores que o grupo placebo no terceiro mês pós tratamento. Os movimentos mandibulares não mostraram diferenças significativas entre os grupos, exceto os valores de excursão lateral direita. Entretanto, o grupo ozônio demonstrou resultados significativamente melhores ao longo do tempo. Os valores da EVA diminuíram significativamente ao longo do tempo tanto no grupo tratado quanto no grupo placebo, sendo que os valores no grupo ozônio foram significativamente menores.

Como pode ser observado, o grupo placebo também apresentou melhora em alguns parâmetros testados. Os autores atribuíram essa melhora ao efeito placebo diante de uma técnica inovadora e tecnologicamente avançada, além do fato de a manipulação dos músculos durante as avaliações poder gerar o relaxamento e, consequentemente, a redução da dor. Ainda, é importante ressaltar que as DTM apresentam sinais/sintomas flutuantes, podendo apresentar remissão espontânea (Magnusson et al., 2000).

O estudo apresenta limitações metodológicas, a citar: não ter utilizado outras dosagens do ozônio, grupo amostral e período de avaliação limitados, utilização do RDC ao invés do Critério Diagnóstico para Desordens Temporomandibulares (DC/TMD), não marcação dos pontos onde foram realizadas as palpações e as aferições com o algômetro para garantir a localização exata no músculo em todas as avaliações. Apesar das limitações, o estudo demonstrou que a ozonioterapia bio-oxidativa, aplicada unilateralmente apresentou benefícios no tratamento da DTM de origem muscular, uma vez que o grupo tratado apresentou melhorias significativas nos parâmetros testados em relação ao grupo placebo. 

Após ter o efeito placebo da ozonioterapia bio-oxidativa descartado com a realização deste estudo, este mesmo grupo de pesquisadores realizou um outro ensaio clínico randomizado comparando esta terapia com dispositivo intraoral. Para saber mais, consulte as referências. 

Referências:
  • Celakil T, Muric A, Gokcen Roehlig B, Evlioglu G, Keskin H. Effect of high-frequency bio-oxidative ozone therapy for masticatory muscle pain: a double-blind randomised clinical trial. J Oral Rehabil 2017;44:442–51. https://doi.org/10.1111/joor.12506.
  • Magnusson T, Egermark I, Carlsson GE. A longitudinal epidemiologic study of signs and symptoms of temporomandibular disorders from 15 to 35 years of age. J Orofac Pain. 2000 Fall;14(4):310-9. PMID: 11203765.
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Tássia Tillemont Machado

  • Especialista em Prótese Dentária - FACSETE
  • Mestre em DTM e Dor Orofacial – São Leopoldo Mandic
  • Doutoranda em Biologia Funcional e Molecular – UNICAMP (Laboratório de Estudos da Dor) 
E-mail: tassiatillemont@yahoo.com.br                
Instagram: @tassiatillemont